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30 de maio de 2017

Maternidade

Um dia disseram-me que ser mãe é a melhor coisa do mundo. Que nada se compara à felicidade que nos assoberba quando seguramos os nossos filhos nos braços pela primeira vez.

Que a dor do parto desaparece quando ouvimos aquele ser pequenino a dar o seu primeiro grito de vida. Que apesar de todas as dúvidas que nos atormentam, como pais, saberemos sempre o que fazer.

Verdades, não haja dúvidas. E desde o momento em que a minha filha veio ao mundo, tudo mudou. Mas nem tudo foi assim tão linear como os dizeres populares nos fazem crer. Nunca fui tão feliz, é certo. Mas também nunca tive tanto medo. Admito até que me questionei muitas vezes se seria capaz de aguentar. Porque ela chora, grita e esperneia tanto, e o cansaço, a privação de sono, a responsabilidade de ter uma vida ao nosso encargo, tudo isso é novo, desgastante e de um peso gigante nas costas. Confesso até que quase me arrependi de querer ser mãe. Mas apenas quase! Quase me arrependi porque não estava habituada a ter um bebé nos braços que chora muito. Mas todas as dúvidas desaparecem quando ela esboça aquele sorriso que me derrete, ou quando ela faz as bolhinhas na boca quando quer brincar. Tudo ganha sentido quando a tenho no colo a dormir, serena, feliz e completa. 

A minha filha não chorou nem gritou quando veio ao mundo. A minha filha quase nascia sem vida. Não foi um parto fácil, mas sei que ela sofreu mais do que eu. E talvez por isso, 10 semanas depois, eu não me recorde da dor que senti naquele dia de primavera. Porque uma mãe não suporta a ideia que os filhos sofram, e por vontade delas, sofriam a sua parte e a dos filhos. Quando a minha filha finalmente respirou e a ouvi de longe na outra sala, permiti-me chorar de alívio, e senti-me finalmente derrotada pelo cansaço. Depois de a limparem, eu não a pude sentir na pele; não a pude alimentar. Ela precisava de cuidados que estavam além do meu corpo debilitado. Por isso, levaram-na para longe de mim. Mas antes, mostraram-ma enrolada num lençol verde, deixaram-me dar-lhe muitos beijos,e só lhe conseguia ver os olhinhos. E que lindos e perfeitos que eles eram! Os olhos da minha filha! Os olhos que desde aquele momento eu iria fazer de tudo por ver brilhar. 

Ao segundo dia, quando eu já tinha forças, trouxeram-me a minha pequena. Tão pequenina que ela era, tão perfeita, tão serena, tão... feliz. E lembro-me de pensar "sou mãe". Chorei muito quando fiquei sozinha com ela no quarto. Chorei porque me senti tão vulnerável e ao mesmo tempo invencível. A minha filha é a minha força, e a minha única fraqueza. 

Viemos para casa, e tem sido uma experiência inexplicável. Há dias em que tudo corre bem, que todos conseguimos descansar, comer e brincar. Há dias em que ela chora muito e, por mais que se faça, o choro continua. E é nesses dias que quase, quase me arrependo. Quase me arrependo porque desde o dia 21 de Março, que tudo o que eu faço, tudo o que eu tenho e tudo o que eu sou, é dela, é em função dela. E isso é assustador. Condenem-me, se quiserem, mas nem sempre tenho capacidade, todos os dias, a todo o instante, de lidar bem com essa responsabilidade. Por todos os motivos e mais alguns. Medo, cansaço, dúvida. E a verdade é que só quem passa por elas é que sabe.

Mas a verdade absoluta e que todo o medo desaparece quando me deixo perceber que apenas posso dar o meu melhor, e que isso chega. Todo o cansaço vale a pena, quando ao surgir a aurora, a minha Aurora sorri para mim e me pede o mimo que só eu e o pai dela sabemos dar. Todas as dúvidas se desvanecem quando deixo de dar importância aos dizeres de fora, e decido com o pai o que é melhor para a nossa pequena. 

A maternidade é difícil. É extenuante. É um trabalho a tempo inteiro. Mas também é gratificante. É bonita. É uma aprendizagem cheia de recompensas incalculáveis. É certo que não tenho horas para comer, dormir ou ir à casa de banho. Não tenho a casa limpa, a depilação feita nem o cabelo arranjado. Mas tenho mil e uma recordações. Tenho amor, tenho felicidade, tenho a realização de um sonho. Tenho a minha vida completa. 

Ser mãe não é para todas. Ser pai não é para todos. Um filho é a maior benção, o maior tesouro que se pode ter. E isso, também não é para todos. 

Tudo o que vale a pena é difícil, dá trabalho, exige dedicação e responsabilidade. 

E nunca nada valeu tanto a pena como ter alguém que me chame "MÃE". 



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