Meu amor

Quero pedir-te desculpa.

Quero explicar-te o porquê de por vezes não parecer merecedora do teu amor. Quero fazer-te perceber a pouca lógica que têm muitas das minhas atitudes.

Eu estou doente, é verdade. E estarei doente até ao dia em que deixe de respirar. E sei que a minha dor não é desculpa. Mas não é por estar doente que peço perdão.

Sabes quando insisto muito para nos levantar-mos da cama? Não te estou a chamar preguiçoso; o meu corpo é que já não aguenta posição alguma no colchão. Lembras-te de quantas vezes te peço para me trazeres o pequeno-almoço à cama? Também não sou preguiçosa, apenas sinto que as minhas pernas foram atropeladas e nem força tenho para me levantar.

Sabes quando ralho muito contigo porque não lavaste a loiça? Na verdade, não estou chateada contigo; mas sim frustrada por eu própria não conseguir fazer as coisas. E desculpa se te conto tantas vezes a mesma coisa, mas eu esqueço-me de tudo!

E quantas vezes te peço para simplesmente me lavares as costas? Não é que queira provocar-te, mas já não tenho capacidade para tomar banho sozinha. Sabes, depois do banho, quando te peço em tom de brincadeira que me seques o cabelo? Eu sei que não tens habilidade para isso, mas os braços pesam-me tanto que desespero ao fazê-lo sozinha.

E desculpa a quantidade de vezes que tens de me carregar do sofá para a cama. É que ando muito cansada e os comprimidos dão-me sono, mas eu quero sentir-te ao pé de mim.

Desculpa por vezes parecer que exijo compreensão da tua parte, quando nem eu consigo compreender o que se passa comigo.

Desculpa. 

Desculpa colocar o peso do meu mundo nos teus ombros.

Desculpa ser doente e arrastar-te comigo.

Desculpa pelas vezes que não respeitei o teu cansaço.

Desculpa-me.